domingo, 28 de novembro de 2010

Posto da Tomina, Secção de Safara, instalações das famílas dos GF + Relato da Vida Fiscal, por José Jorge


O sr. Eliseu Seixas Aguiar enviou-nos mais esta "histórica" fotografia sobre as habitações das famílias dos Guarda Fiscais. Trata-se do Posto da Tomina, Secção de Safara, que no início dos anos 30 foi comandada pelo sr. Tenente Seixas, avô deste nosso colaborador.



Desconhecemos se o posto, ou o que dele resta, ainda existe. Sabemos que na Tomina, perto de Santo Aleixo da Restauração, ainda podemos ver as ruínas do secular convento da Tomina, conforme foto abaixo.



O nosso colaborador José Jorge enviou-nos um excelente relato de como era a vida nos postos da raia terrestre no início dos anos 60. Por coincidência, o José Jorge efectou serviço nesta zona da fronteira e pertenceu à Secção de Safara, pelo que faz todo o sentido inserir o seu testemunho conjuntamente com a foto das habitações das famílias dos guarda fiscais do posto da Tomina.

Dado o interesse, abrimos uma página no nosso site que designamos " HISTÓRIAS DA VIDA FISCAL". Relatos como este do amigo José Jorge são sempre bem - vindos. o endereço para o envio é: picachouricos@gmail.com



A VIDA FISCAL NA FRONTEIRA TERRESTE NO INÍCIO DOS ANOS 60, por José Jorge

Em primeiro lugar, quero fazer aqui uma rectificação referente ao Posto Fiscal da Foz dos Pardais. Quero informar que, por lapso meu, disse que pertencia à Secção de Safara, o que não é correcto, pertencia, sim, à Secção do Alandroal.
O Posto em que eu prestei serviço na Secção de Safara, desde o final do ano de 1963 até Outubro de 1964, foi no Posto de Vale de Malhão, que tinha por Posto mais próximo o Posto de Vale de Grou.
Neste Posto de Vale de Malhão, havia boas condições habitacionais, pois a construção da (casa) Posto, como as habitações para os guardas casados, eram novas, e já tinham algumas condições de habitabilidade, embora a luz que existia fosse produzida por candeeiros a petróleo. A água que se consumia no Posto, e nas habitações, provinha de um poço que se encontrava a mais ou menos 80/100 metros, e no qual havia uma bomba manual com uma grande roda em ferro. Assim, todos os dias logo pela manhã, 7/8horas, íamos quatro guardas fiscais, durante uma hora ou até hora e meia, manejar à força de braços aquela roda de ferro que fazia movimentar a bomba e assim se enchiam os depósitos de água para todo o consumo.
O efectivo do Posto era composto por seis praças e um cabo, sendo este o comandante do Posto. Se a memória não me falha, nenhum de nós, guardas, tinha transporte e todos os dias, excepto sábados, domingos e feriados, tinha que se deslocar um guarda a Santo Aleixo (a pé) para fazer o transporte de algum possível correio, só que 70/80 % das vezes não havia correio. O guarda que fazia este serviço, depois de percorrer 24 Km a pé, à noite ainda ia fazer o serviço de aguardo de 4/6horas. Durante a noite é que era um problema, pois os lobos chegavam a escassos metros da zona habitacional. Quanto ao contrabando existente na área do Posto, era muito reduzida e insignificante, como por exemplo: 2/3 Kg de toucinho, meia dúzia de pratos de pirex,1/2/ou 3 pares de sapatilhas e nada mais.
A aquisição de alimentos era um problema pois a aldeia mais próxima que tínhamos ficava a 12 Km, Santo Aleixo da Restauração. Durante a semana, quando íamos ao correio,comprávamos o necessário e quase todas as compras ficavam na loja do srº. Rodrigues. Ao sábado, ia um Srº. com 2 ou 3 azininos (burros) fazer o transporte dos nossos produtos e nós no fim de cada mês pagávamos a esse Srº. Quero recordar que na altura um Guarda Fiscal recebia de vencimento 1150$00, ilíquido. Líquido ficava-se pelos 950/960$00, o equivalente a 4,80euros de hoje. Como muitos sabem, éramos obrigados a andar 24h00 por dia fardados, excepto quando pedíamos uma autorização para trajar civilmente. E assim era a nossa vida, férias só tínhamos direito a elas decorridos 1 ano de serviço e ainda tínhamos de ter a sorte de o cabo, comandante do Posto, não informar que o guarda não merecia férias ( na altura se denominava licença).

Quanto ao Posto da Foz dos Pardais, só quem lá esteve é que pode avaliar aquilo que nós, G.Fiscais, sofremos naquele tempo. O Posto era isolado. Não havia qualquer caminho de acesso numa distancia de mais ou menos 3 Km. O caminho que existia era uma vereda. Ali, nós, os Guardas, já quase todos tínhamos transporte próprio ( um ciclomotor), o meu era uma Famel Foguete que comprei, em segunda mão, pelo preço de 3.600$00 (o equivalente hoje a 18,00euros) e que paguei em 12 prestações, o que era muito dinheiro para quem ganhava 960$00 por mês.
A aldeia mais próximo que tínhamos era Mina do Bugalho. Quanto às condições habitacionais eram mais que indignas. As barracas eram feitas de pedra e barro, as portas eram de tábuas de cofragem e o telhado era de colmo ( palha de centeio malhado). A água para bebermos tínhamos que a ir buscar com um cântaro de barro a uma fonte um pouco distante do Posto, o seu transporte era feito ao nosso ombro. Relativamente à nossa alimentação, cada qual fazia a sua - todos tínhamos um fogareiro a petróleo. As camas eram tarimbas, ou seja, feitas com paus e o colchão era uma esteira com mais ou menos 0,05 metros de espessura.
Era horrível, os guardas casados tinham as mesmas condições. Recordo que houve uma mulher de um colega, de nome João Sanches, que teve que dar à luz numa dessas barracas, porque havia uma ribeira e, quando chovia muito e o caudal de água era grande, ficávamos incomunicáveis. Lembro-me que foi o meu amigo J.Sanches, pai do bebé, que teve que ser o parteiro e assistente da esposa, pois não se conseguia sair dali devido ao caudal da ribeira.
O efectivo do posto: 6 Praças e 1 cabo,comandante do Posto, o srº António Rodrigues Calado, natural de Arronches. No posto existia uma camarata, com 6 camas, que só era utilizada pelos 2 guardas de serviço. Era o plantão que tinha que fazer toda a limpeza do posto, tinha que ir buscar o cântaro cheio de água e permanecia 24 horas de serviço no Posto, depois à noite tinha um apoio que era denominado de pernoita, que fazia 12h00 de serviço. Entrava às 20h00 e saía às 08h00 do dia seguinte. Depois seguia para ir ao correio a caminho da Mina do Bugalho. O mínimo de horas de serviço que fazíamos eram de 12h00 diárias sempre fardados e só tínhamos um dia de descanso (folga) quinzenal, mas mesmo assim tenho grandes recordações da grande camaradagem e amizade que reinava nesta grande Família que era a GUARDA FISCAL. O efectivo deste Posto era o cabo Calado, J.Sanches , J.M.Carrilho, A.Transmontano, Herminigildo Varela, A.S.Castelo e eu José Jorge.

Um abraço a todos os picachouriços.
José Jorge

2 comentários:

  1. comentário teste do administrador

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  2. Hoje do nada entrei neste blogue. Que saudades senti.Fui criada na e com a GF...o meu pai era o Sebastião Pica que de certeza deve ter conhecido. Vou estar atenta especialmente quando quiser matar saudades. Bem Hajam. Fátima

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