sábado, 26 de março de 2011

Posto Fiscal de Brufe e contrabando na serra Amarela

O Sr. Eliseu Seixas Aguiar enviou-nos mais uma foto histórica, trata-se do Posto Fiscal de Brufe, Cutelo, Secção do Gerês, no ano de 1931.
Publicamos, conjuntamente, uma excelente entrevista ao Sr. João Martins que, em tempos, se dedicou ao contrabando nesta zona da raia terrestre, percorrendo os carreiros da serra Amarela.
Vamos verificando, com agrado, que os velhos carreiros percorridos pelos contrabandistas e guardados pelos guarda fiscais estão a ser reabilitados pelas comunidades locais, havendo já dezenas de percursos pedestres por todo o pais, normalmente designados por "Rotas do Contrabando", e percorridos por centenas de pessoas. Nalguns já há figurações "históricas" com simulações de contrabandistas e guarda fiscais.
Poderiam, é claro, os velhos postos da Guarda Fiscal, abandonados e vandalizados terem alguma utilidade nestas "Rotas do Contrabando", por exemplo, como "postos-museu", locais para descanso e confecção de refeições, ou até dormida dos caminhantes e turistas.

Custódio Duarte


João Martins, um contrabandista de Gondoriz

João Manuel Martins vive no lugar da Refonteira, em Gondoriz, freguesia de onde é natural e onde sempre viveu e, tal como muitos outros terrabourenses, para sobreviver, foi obrigado a fazer contrabando entre Portugal e Espanha.
Hoje, este gondoricense que já conta com 80 anos é um dos poucos contrabandistas ainda vivos e conhece, como a palma da sua mão, a rota do contrabando onde, naquele tempo, andou juntamente com dezenas de homens terrabourenses, principalmente, de Brufe, Gondoriz e Cibões.


Este contrabandista garante que todo aquele que se aventurava a vencer as agruras da Serra Amarela e a desafiar a vigilância zelosa da “guarda” tinha de ser um bom conhecedor dos trilhos da montanha, de possuir um grande sentido de orientação, de ter muita disciplina e, ainda, de ter espírito de sacrifício, entreajuda e solidariedade.

Este gondoricense afirma à nossa reportagem que a pé, durante a noite e no silêncio da noite,os caminhos na Serra Amarela eram calcorreados por todos aqueles que faziam do contrabando o seu ganha pão. “Era um negócio de tostões, mas era a minha única fonte de receita. Naquele tempo, ganhava-se muito pouquinho, mas, naquela época, não tínhamos onde ganhar dinheiro. Sempre eram alguns míseros tostões que entravam na nossa casa!” Às vezes, não ganhavam para a despesa porque quando transportavam para Espanha, por exemplo, ovos e tinham de fugir às perseguições da “guarda”, partiam-nos e lá se ia “por água abaixo o nosso pequeno investimento”. Tudo era feito a pé e sempre que os ovos rareavam “chegávamos a ir comprá-los muito longe. Era uma vida escrava” lamenta-se. “Às vezes, saíamos com os ovos acomodados em palha nas mochilas e chegávamos a Espanha com eles todos partidos. Não se aproveitava nenhum ovo!”
Os contrabandistas, da rota da Serra Amarela, levavam para Espanha principalmente ovos, azeite e sabão e para Portugal podiam trazer produtos, tais como: boinas, botas, meias, tabaco, chumbo para carregar as espingardas, mas o produto que mais “trazíamos eram enxadas. As autoridades nunca revistaram a minha casa porque nunca houve denúncias. Contudo, se o fizessem nunca encontrariam nada. Tudo o que eu trazia de Espanha era escondido, principalmente, no meio do monte”.
Os produtos que levavam de cá eram comprados nas “vendas” das aldeias ou aos lavradores locais, mas, às vezes, quando os ovos eram insuficientes iam comprá-los ao concelho de Amares, nomeadamente a Caldelas, a Rendufe e à Feira Nova.
De Brufe até Espanha, percorrer o caminho, demorava pouco mais de 4 horas, mas de Gondoriz até Torneiros a “caminhada levava de 7 a 8 horas. Mas este tempo podia ser bem maior! Tudo dependia do caminho. Só conseguíamos fazer neste tempo, se fossemos pelo cimo da Serra Amarela e sem qualquer tipo de percalço”.
Na Serra Amarela, a caminhada era feita normalmente à noite, em silêncio, sem fumar, em grupo e em fila indiana. “Às vezes, percorria-se a rota do contrabando de dia, principalmente, quando estava nevoeiro”. Na frente da fila, que podia atingir umas boas dezenas de metros, ia sempre alguém que conhecia bem os trilhos. “Chegámos lá a ir 75 homens que formavam uma fila com uma distância como daqui de Gondoriz a Terras de Bouro. Vergados pelo peso das nossas mochilas, íamos separados para não sermos apanhados e, às vezes, quando desconfiávamos que podia aparecer a guarda, púnhamos na dianteira, muito distante de nós, alguém que levava um fardo de pouco valor e, quando era interceptado pela guarda, fazia um alarido tal que nós, mesmo a uma distância considerável, ouvíamos e fugíamos sem sermos apanhados. Outras vezes, pressentíamos a presença da guarda e tínhamos de desviar-nos para o lado do Lindoso, o que nos atrasava muito e nos fazia aumentar o tempo da caminhada”.
No seu tempo, havia três postos da guarda fiscal: um no Campo do Gerês, outro em Carvalheira e outro em Vilarinho da Furna. Quando os guardas os interceptavam, gritavam “larga”, disparavam para o ar e quando já não tinham tiros rolavam pedras pelo monte abaixo. “Os guardas sempre que nos apanhavam, tiravam-nos as coisas todas e sempre que fugíamos da autoridade corríamos muitos riscos e perigos. Andar no meio da Serra Amarela era muito perigoso porque havia sítios que se lá caíssemos, morríamos e apodrecíamos sem que ninguém nos encontrasse. No Inverno, era difícil devido, principalmente, à neve, ao gelo e ao vento. A neve e o gelo conservavam-se quase até Abril no alto da serra o que tornava muito perigosos estes trilhos.
A víbora e o lobo nunca constituíram ameaças. “Sempre que nos sentávamos para descansar sacudíamos a vegetação para afugentarmos as víboras. Cheguei a ver o lobo sozinho, mas não se atira a ninguém!”
Aos oitenta anos, este contrabandista gondoricense que “vende frescura”, disponibilizou-se para nos acompanhar e mostrar “in loco” as armadilhas que esconde a Serra Amarela. Informou-nos que percorreu o trilho do contrabando recentemente. Calcorreou, juntamente com o Dr. Manuel Martins a Serra Amarela pelo lado do Posto Emissor do Muro e, também fez, juntamente com o nosso ilustre doutor, a caminhada de Brufe a Torneiros.


Publicado no jornal "Geresão", em 20 de Abril de 2010
In http://terrasbouro.blogspot.com/2010/04/joao-martins-um-contrabandista-de.html

terça-feira, 15 de março de 2011

Faleceu o Tenente Coronel Calado Vilela




Faleceu o Ten Cor Armindo Calado Vilela.
Prestou serviço no Aeroporto de Lisboa e mais tarde esteve muito ligado ao Serviço de Fiscalização Especial, tendo sido comandante da 7ª Companhia.

Bom amigo.
Paz à sua alma.

Publicado em "Guarda Fiscal", a que agradecemos.

sábado, 12 de março de 2011

Guarda Fiscais humanizaram a GNR


Hoje apeteceu-me escrever algo sobre a integração da Guarda Fiscal na Guarda Nacional Republicana, vista e sentida à minha maneira.Em 05 de Outubro de 1995 tomei posse do Comando o Posto da GNR de Melgaço, uma vila muito bonita do Alto Minho. Ali fui encontrar vários camaradas oriundos da GF. Passados uns tempos de comando constatei que havia diferenças na forma de tratamento da população entre os nossos camaradas e os oriundos da GNR. Os nossos eram mais diplomatas, mais sensíveis às situações com que deparavam no dia a dia, enquanto que os camaradas "nativos" da GNR, eram agressivos e pouco sensíveis, provavelmente da instrução que lhes foi incutida, durante a formação.

Durante 6 anos que comandei esse Posto, nunca tive problemas com o efectivo consegui grande harmonia entre todos os camaradas, mas o que mais me deu orgulho foi em ouvir por parte da população foi estas palavras " a Guarda Fiscal veio humanizar a Guarda Nacional Republicana".
Nesta altura no Comando Territorial de Viana do Castelo a mioria dos Comandantes de Postos eram oriundos da Guarda Fiscal grandes profissionais que souberam adaptar-se à nova realidade e que não deixaram ficar mal a nossa Guarda Fiscal.

Um abraço,

José Vilarinho

quarta-feira, 2 de março de 2011

Histórias da Vida Fiscal - o correio nos postos fiscais

Nos velhos tempos da Guarda Fiscal ( anos 70 ) face às escassas verbas que eram atribuídas para expediente ( consumos de secretaria ), muitos comandantes de Posto quando recebiam o correio da Secção abriam os envelopes com cuidado, viravam-nos religiosamente descolando as suas partes ao vapor de água quente para depois, com novo endereço, serem reenviados para o Comando da Secção com correio evitando assim o consumo de envelopes novos. Para os colar usavam a seiva das cerejeiras e de outras árvores diluida em água outras vezes farinha de centeio e lá conseguiam deste modo ultrapassar dificuldades graças a tanta imaginação...

Na maioria dos Postos não havia o luxo de ter " em carga " uma máquina de escrever daí que todo o expediente a enviar era escriturado à mão com uma caneta de pau feita artesanalmente com um aparo atado na sua ponta. Recordo um comandante de Posto cuja letra era um autêntico rendilhado, verdadeira escrita de arte. A " Nota Diária " ( quem não se lembra ? ) tinha que ser enviada obrigatóriamente todos os dias e na maioria das vezes com a verba : Negativa. Mesmo assim lá ia o sacrificado do guardinha levar " a dita cuja " ao posto de Correios mais perto mas convenhamos que alguns deles a 4 ou 5 km de distância, caso dos Alares - Secção da Zebreira - e Fraldona- Secção de Castelo Branco.

Luis Infante