segunda-feira, 18 de março de 2013

Artigo sobre o Tenente Seixas no Jornal Povo de Barroso




Pedindo desculpa ao autor pelo atraso, publicamos agora o artigo vindo no jornal O Povo de Barroso, de 26 de Novembro de 2012, da autoria de Fernando Guimarães, sobre o nosso "esquecido" Tenente Seixas.
O nosso muito obrigado ao  autor pela iniciativa e qualidade do artigo.

Custódio Duarte








Na lide da pesquisa da História da Guarda Fiscal e postos fiscais na fronteira da Serra do Gerês, deparei-me com coisas deveras interessantes. Entre elas, a história de vida do Tenente Seixas, ilustre Barrosão. Procurei em algumas publicações editadas que referissem figuras do Concelho de Montalegre que se destacaram na vida pública nacional e não encontrei nenhuma alusão a esta figura do Corpo da Guarda Fiscal. Perdoem-me se estou errado.

António Augusto de Seixas Araújo nasceu em 1891 em Montalegre e faleceu em 1958, deduzo, em Sines.


Foi oficial da Guarda Fiscal, industrial e Administrador da Câmara de Sines.


Passou pelo posto fiscal da Vila do Gerês como comandante da Secção do Gerês que pertencia à 4ª companhia do batalhão nº 3 da Guarda Fiscal. Esta curta passagem pelo Gerês está registada nas fotografias dos postos fiscais fronteiriços, datadas de 1931, que foram encontradas no seu espólio e recentemente tornadas públicas. Nestas fotos, dando espaço à nossa imaginação, vemos quanto era dura a vida de um Guarda Fiscal.

 
Republicano convicto participou na defesa da República em Chaves, quando das incursões monárquicas de Sidónio Pais, combate de S. Neutel, onde foi ferido. Cedo aderiu a causas democráticas: Em 1935 é cavaleiro da Ordem de Avis e recebe vários louvores pelos serviços prestados, capacidade de comando e dotes morais.


Em 21 de Setembro de 1936 estando no comando da Secção de Safara em Barrancos e das forças do exército, GNR e PIDE, acolhe mais de milhar e meio de refugiados espanhóis perseguidos pelos falangistas. Contrariando a vontade das outras forças de vigilância, que pretendiam entrega-los aos perseguidores para serem fuzilados, monta dois campos de refugiados. Apenas um é conhecido das autoridades portuguesas. Depois de intensas negociações e pressões internacionais os refugiados são transportados para Tarragona no navio Niassa. No embarque, ao fazer a contagem, aparecem mais quatro centenas de refugiados, os do campo secreto. O Tenente Seixas é, então, castigado a 60 dias de prisão no forte de Elvas e expulso da Guarda Fiscal pelo governo de Salazar.


Em 24 de Abril de 2010 Oliva de la Frontera, donde eram os refugiados, prestaram homenagem ao Tenente António Augusto de Seixas Araújo, ilustre Barrosão. Atribuíram, pela 1ª vez a um estrangeiro, a Medalha da Estremadura e erigiram um monumento, no centro de Oliva de la Frontera, como reconhecimento da mão amiga que encontraram do outro lado da fronteira e também para que a memória deste ato de solidariedade não se apague.


Por sua vez, os Correios de Espanha emitiram um selo postal com o Tenente Seixas fardado de oficial da Guarda Fiscal e com a legenda:- “Teniente Seixas – El Schindler d La Raia”.


Monumento ao Tenente Seixas em Oliva de la Frontera


"al teniente seixas y al pueblo de barrancos


O meu pai justificou-se perante o seu superior. Alegou que também ele tinha filhos... Que não gostaria, nem poderia admitir que lhos maltratassem. Lhe parecia ser dever dele, tendo à sua guarda filhos de Espanha, estimá-los como era devido, pois só assim poderia honrar o oiro dos seus galões. E que soubessem os seus camaradas que, lá porque se chamava Seixas, ele não tinha um seixo no lugar do coração”.



Humanismo, princípios éticos, respeito, justiça, honra, amor, liberdade e solidariedade praticados pelo Tenente Seixas mereciam ser reconhecidos também em Portugal e em particular no nosso Concelho. O reconhecimento apenas além-fronteiras é insuficiente para este BARROSÃO.





Fernando Guimarães