Guaritas a património
A Câmara Municipal de Almeida tem em preparação um processo de classificação das guaritas, localizadas à beira da estrada entre Vilar Formoso e Almeida. Erguidas durante o Estado Novo, as guaritas serviam como abrigo para os guardas fiscais que travavam uma luta cerrada ao contrabando, uma actividade a que se dedicou grande parte da população da raia. Hoje, votadas ao abandono, são tratadas com alguma indiferença sendo utilizadas como sustento para a divulgação de festas e como sanitários. Para muitos, as guaritas não são mais do que estruturas construídas pela antiga Junta Autónoma de Estradas para acolher os cantoneiros.
Despojadas do valor que justificou a sua construção, assim que foram abolidas as fronteiras, as guaritas, situadas à beira da estrada 233, servem hoje de sanitários e de sustento aos cartazes das festas, arraiais e actividades tauromáquicas que se realizam na raia dos concelhos de Almeida e Sabugal. O abandono a que foram votadas encarregou-se também a que fosse esquecida a sua principal missão e hoje há quem julgue que as guaritas foram construídas para abrigar os cantoneiros. Mas assim não foi. As guaritas foram erguidas durante o Estado Novo para proteger os sentinelas do mau tempo, sobretudo os guardas fiscais que tinham a obrigação de defender a fronteira contra a fraude fiscal e aduaneira. As guaritas acolheram ainda durante o período da Guerra Civil os guardas que impediam a entrada de republicanos em Portugal.
Não é de estranhar por isso que ao longo dos anos lhes tenha sido atribuída outra função, em parte para fazer esquecer as más recordações que a sua presença junto à linha de fronteira trazem à memória daquela população. Durante décadas, a tentação de encontrar produtos muito mais baratos ali tão perto proporcionou o aparecimento do contrabando em grande escala, ainda que fosse preciso correr muitos riscos. E de facto conta-se que muitos foram os que ali perderam a vida. Não admira por isso que a Guarda Fiscal, entretanto extinta, ganhasse pouco ou quase nenhum prestígio por aquelas bandas. Nuno Montemor, no seu livro "Maria Mim", uma obra referência quando se aborda o contrabando, diz que «o guarda fiscal usufruía sobre o contrabandista o direito do caçador sobre o coelho bravo, e como atacava a matar, o contrabandista defendia-se a matar».Um património a conservar
Com a liberalização do comércio na União Europeia, o contrabando deixou de ter sentido. Deixaram de existir guardas fiscais e as fronteiras passaram a ser passagem livre. As guaritas permanecem ao longo da estrada como que a lembrar a história construída por grande parte das populações das redondezas.
Por sugestão da directora do Museu da Guarda, Dulce Helena Borges, Moutinho Borges, técnico superior da Câmara Municipal de Almeida, lançou o repto o executivo para uma possível classificação das guaritas. O processo está em pré-elaboração e brevemente deverá ser solicitada ao Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) a classificação de um conjunto de estruturas, onde também será incluída a Estação de Caminhos de Ferro de Vilar Formoso.
Dulce Helena Borges defende que as guaritas são um património «notável» pela sua importância histórica e relevância ao nível geográfico. E porque se corre o risco das guaritas puderem vir a ser «desmontadas pedra por pedra» é importante que sejam classificadas. A directora do Museu entende que as guaritas poderão vir a ser consideradas como património concelhio ou de interesse público. «É a única forma de potenciar» as guaritas que se encontram votadas ao abandono há dezenas de anos. É que logo que o processo de classificação seja apresentado ao IPPAR, as guaritas ficam imediatamente salvaguardadas.
Recentemente a Câmara Municipal de Valença, no Minho, constituiu um roteiro turístico com base nas guaritas existentes naquele concelho. Instado sobre a possibilidade de ser criado no concelho de Almeida uma iniciativa daquele género, Moutinho Borges sublinhou que «para já a preocupação» é a classificação. Tanto mais que «ainda está muito vivo na memória uma imagem negativa» sobre as guaritas, «muita gente morreu ali e é preciso deixar apagar essa imagem».
Elisabete Gonçalves
A Câmara Municipal de Almeida tem em preparação um processo de classificação das guaritas, localizadas à beira da estrada entre Vilar Formoso e Almeida. Erguidas durante o Estado Novo, as guaritas serviam como abrigo para os guardas fiscais que travavam uma luta cerrada ao contrabando, uma actividade a que se dedicou grande parte da população da raia. Hoje, votadas ao abandono, são tratadas com alguma indiferença sendo utilizadas como sustento para a divulgação de festas e como sanitários. Para muitos, as guaritas não são mais do que estruturas construídas pela antiga Junta Autónoma de Estradas para acolher os cantoneiros.
Despojadas do valor que justificou a sua construção, assim que foram abolidas as fronteiras, as guaritas, situadas à beira da estrada 233, servem hoje de sanitários e de sustento aos cartazes das festas, arraiais e actividades tauromáquicas que se realizam na raia dos concelhos de Almeida e Sabugal. O abandono a que foram votadas encarregou-se também a que fosse esquecida a sua principal missão e hoje há quem julgue que as guaritas foram construídas para abrigar os cantoneiros. Mas assim não foi. As guaritas foram erguidas durante o Estado Novo para proteger os sentinelas do mau tempo, sobretudo os guardas fiscais que tinham a obrigação de defender a fronteira contra a fraude fiscal e aduaneira. As guaritas acolheram ainda durante o período da Guerra Civil os guardas que impediam a entrada de republicanos em Portugal.
Não é de estranhar por isso que ao longo dos anos lhes tenha sido atribuída outra função, em parte para fazer esquecer as más recordações que a sua presença junto à linha de fronteira trazem à memória daquela população. Durante décadas, a tentação de encontrar produtos muito mais baratos ali tão perto proporcionou o aparecimento do contrabando em grande escala, ainda que fosse preciso correr muitos riscos. E de facto conta-se que muitos foram os que ali perderam a vida. Não admira por isso que a Guarda Fiscal, entretanto extinta, ganhasse pouco ou quase nenhum prestígio por aquelas bandas. Nuno Montemor, no seu livro "Maria Mim", uma obra referência quando se aborda o contrabando, diz que «o guarda fiscal usufruía sobre o contrabandista o direito do caçador sobre o coelho bravo, e como atacava a matar, o contrabandista defendia-se a matar».Um património a conservar
Com a liberalização do comércio na União Europeia, o contrabando deixou de ter sentido. Deixaram de existir guardas fiscais e as fronteiras passaram a ser passagem livre. As guaritas permanecem ao longo da estrada como que a lembrar a história construída por grande parte das populações das redondezas.
Por sugestão da directora do Museu da Guarda, Dulce Helena Borges, Moutinho Borges, técnico superior da Câmara Municipal de Almeida, lançou o repto o executivo para uma possível classificação das guaritas. O processo está em pré-elaboração e brevemente deverá ser solicitada ao Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) a classificação de um conjunto de estruturas, onde também será incluída a Estação de Caminhos de Ferro de Vilar Formoso.
Dulce Helena Borges defende que as guaritas são um património «notável» pela sua importância histórica e relevância ao nível geográfico. E porque se corre o risco das guaritas puderem vir a ser «desmontadas pedra por pedra» é importante que sejam classificadas. A directora do Museu entende que as guaritas poderão vir a ser consideradas como património concelhio ou de interesse público. «É a única forma de potenciar» as guaritas que se encontram votadas ao abandono há dezenas de anos. É que logo que o processo de classificação seja apresentado ao IPPAR, as guaritas ficam imediatamente salvaguardadas.
Recentemente a Câmara Municipal de Valença, no Minho, constituiu um roteiro turístico com base nas guaritas existentes naquele concelho. Instado sobre a possibilidade de ser criado no concelho de Almeida uma iniciativa daquele género, Moutinho Borges sublinhou que «para já a preocupação» é a classificação. Tanto mais que «ainda está muito vivo na memória uma imagem negativa» sobre as guaritas, «muita gente morreu ali e é preciso deixar apagar essa imagem».
Elisabete Gonçalves
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